A
MENINA BORBOLETA
Em
visita a certa cidade, recebi um estranho chamado. Uma senhora desconhecida
precisava falar comigo e como se fosse uma coisa natural, dirigi-me para lá.
Encontrei-a num casebre, em um bairro muito afastado e pobre, já muito doente e
fraca. Ao seu lado, uma menina muito magrinha que deveria ter uns dois anos foi
o motivo do chamado. Era seu desejo que eu levasse comigo aquela criança e dela
cuidasse, pois não tinha mais forças para continuar a luta. Falou-me que vivia
mudando de cidade, sempre reservada, para protegê-la.
Intrigada
com a situação quis saber o que estava acontecendo então ela me disse que
aquela criança era diferente, fazia “coisas”... Como transformar-se em objetos
e apesar de não poder explicar ela aceitava e a protegia como uma guardiã. Como
não sabia controlar os impulsos, por vezes as mutações aconteciam diante de
estranhos. Há dias viviam naquele lugar, mas, a menina estava com outra criança
quando viu um brinquedo e gostou. Transformou-se no brinquedo. A criança vizinha
fugiu assustada e agora a pobre senhora temia que se a notícia se espalhasse algo
de ruim acontecesse e ela não tivesse condições de defendê-la.
Ouvi
todo o relato, atônita! Confesso que não acreditei numa só palavra, mas sabe
Deus porque, diante do sofrimento daquela mulher fui incapaz de recusar ajuda. Sequer
eu sei se era sua filha ou neta, mas era certo que a amava. Também não entendi
“por que eu?”, mas na hora não questionei. Aproximei-me, a pequenina
estendeu-me os minúsculos bracinhos e sussurrou “mamãe”. Abracei-a e ela
grudou-se em mim como se fosse uma parte do meu corpo ou da minha alma.
Fugimos
dali. Percebi que eu não estava só, algumas pessoas me acompanhavam embora não
as conhecesse. Algum tempo depois chegamos a uma casa afastada, num lugar
distante.
Telefonei
para uma pessoa em quem confiava e pedi ajuda. Ela veio imediatamente com um
acompanhante, estava disposta a ajudar, mas quando relatei os fatos, cética que
era achou que eu estava louca e para nossa surpresa, enquanto discutíamos a
menina literalmente dissolveu-se à nossa frente e em seu lugar, restou apenas
uma maleta, exatamente igual à que trouxera. Estupefata, a pessoa, que eu
considerava amiga, comunicou-se com alguém que descobri ser algo como um
Instituto de Pesquisas, ou um Laboratório. Por certo tirariam a menina de mim,
apesar das minhas súplicas e o pior, eu sabia, eu sentia que iriam maltratá-la.
Precisava
encontrar um meio de salvá-la. De repente, enquanto meditava sobre a situação, uma
linda borboleta colorida pousou ao nosso lado. Não sei bem explicar se era dia
ou noite, mas, em meio ao escuro do céu, dois enormes círculos, um prateado e
um dourado, jorravam luz em nossa direção. Sol e lua brilhavam juntos. Por que
eu não me assustei com esse fenômeno? Olhei para a borboleta e para o céu. Era
o sinal. Enfim a resposta às minhas preces. Se ela podia assumir a forma de um
objeto, poderia transformar-se em um inseto. Algumas horas juntas foi o tempo
que tivemos e eu a convenci a assumir a forma daquela borboleta e voar em
direção à luz. Permanecemos unidas como se assim o fosse desde sempre. O imenso
e inexplicável amor que sentia me dava forças para aquela separação e quando
chegou a hora, pedi aos amigos que me ajudavam, para sorrateiramente, abrirem
todas as janelas da casa. Então eu disse à borboleta, voe, voe alto minha menina,
depois mamãe irá lhe encontrar. Ela voou. Nunca soube o seu nome. Sequer
deram-me tempo de escolher um, mas decidi chamá-la apenas de Menina Borboleta.
Fátima
Almeida
14/06/2015
“Tinha um menino que saía todo dia,
E a primeira coisa que ele olhava e recebia
com surpresa ou pena ou amor ou
Medo, naquela coisa ele virava,
E aquela coisa virava parte dele o dia todo
ou parte do dia...
Ou por muitos anos ou
Longos ciclos de anos.”
(Walt Whitman (Folhas de Relva. Trad. De
Rodrigo Garcia Lopes)
Que bonita inspiração nesta borboleta menina, ficou muito boa Fatima.
ResponderExcluirEngraçado que falo de um menino que juntava estrelas como pastor.
Gostei da historinha.
Uma bela semana com paz e alegria
Meu abraço e beijo de paz.
Obrigada Toninho!!! amei a visita e o comentário.
ResponderExcluirVolte sempre!
Beijos poéticos amigo!